Um dos tipos de pessoas que eu mais odeio, depois das próprias pessoas são aquelas que tem uma visão de mundo tão estreita que faz com que a luz que elas vejam fique toda difratada. Esse tipo de pessoa as vezes consegue fazer com que sua opinião chegue a muitos ouvidos, eis um exemplo (Cortesia da Folha de São Paulo):
"Adultos em pijamas (JOÃO PEREIRA COUTINHO)
Se a fantasia já é difícil de engolir como fantasia, imaginem apresentá-la como "documental"
NADA TENHO contra vigilantes. Contra? Minha adolescência cinéfila não foi só Bergman, não foi só Bresson, não foi só Renoir. Nos intervalos, escondido de meus amigos intelectuais, eu gostava de assistir a Clint Eastwood limpando as ruas de San Francisco. "Do you feel lucky, punk?" converteu-se para mim em mantra espiritual, tão emblemático como o "Play it again, Sam" que Ingrid Bergman (nunca) disse em "Casablanca".
Para não falar de prazeres menores, ou maiores, como Charles Bronson em "Desejo de Matar". Que será feito de Bronson? Divago. Recordo apenas uma seqüência de um dos filmes da série: Bronson, caminhando lentamente nas ruas do bairro, com câmera fotográfica sobre o ombro e tomando sorvete em pose turística. Subitamente, o bandido entra em cena, pega a câmera de Bronson e foge como um galgo de competição.
Bronson não corre atrás. Com a mesma displicência com que tomava o sorvete, joga-o fora, saca da arma (a inevitável Magnum 44), aponta sem pressa e atira no bandido, como quem atira em um animal. O bandido tomba. Bronson recupera a câmera (mas não o sorvete). Só quem nunca teve uma câmera roubada em plena rua é que não entende o prazer de assistir a essa cena.
Nada tenho contra vigilantes, repito. Mas também acrescento que os vigilantes têm de cumprir dois requisitos básicos.
Em primeiro lugar, só podem existir na tela, não na vida real. Na vida real, continuo a preferir o Estado de Direito, em que existem leis, polícia e tribunais, e não loucos ou beneméritos que gostam de fazer justiça com as próprias mãos.
Mas mesmo os vigilantes das telas têm de cumprir um segundo requisito: não podem usar collants, máscaras, pinturas ou capas supostamente voadoras. Dizem-me que Batman, ou Super-Homem, é uma metáfora profunda sobre a nossa condição solitária e urbana; heróis derradeiros da pós-modernidade. Não comento. Exceto para dizer que morro de rir quando vejo um ator, supostamente adulto e racional, enfiado num pijama colorido e disposto a salvar a humanidade das mãos maléficas de um vilão tão ridículo e tão colorido quanto ele.
Sem falar dos fãs: homens feitos, alguns casados, que continuam a acreditar que um super-herói em pleno vôo compensa todas as ereções falhadas.
E foi assim que assisti ao último Batman, "O Cavaleiro das Trevas", dirigido por Christopher Nolan. Não vale a pena apresentar o filme: durante meses e meses e meses, uma máquina publicitária que não pára tentou convencer o mundo de que "O Cavaleiro das Trevas" era o melhor da série e, juro que ouvi, um dos maiores filmes de toda a história do cinema. De acordo com os promotores, Nolan trocara a fantasia sombria de Tim Burton e o espetáculo adocicado de Joel Schumacher por um realismo digno de Michael Mann: desde "Fogo contra Fogo" ninguém filmava assim uma cidade, cruamente e no osso.
E os atores? Os atores seriam exemplos de um realismo ainda mais brutal, com destaque para o Coringa, papel que pode valer a Heath Ledger o Oscar póstumo. Alguns, mais ousados, ainda acrescentam que Ledger morreu de overdose precisamente por causa das exigências do papel.
Não tenciono polemizar com a sabedoria dos críticos, mas suspeito de que Heath Ledger morreu de overdose porque, depois de assistir ao resultado, não agüentou a vergonha. E quem o pode censurar?
Eu não, rapazes. E confesso que entrei na sala com boa vontade: "O Cavaleiro das Trevas" apresenta o herói (Batman) em luta final contra o mestre da anarquia (Coringa), um lunático que não deseja dinheiro nem poder como os vilões tradicionais, mas sim pura destruição. Na cabeça dos criadores, essa oposição simplória entre civilização/caos seria uma metáfora sobre o mundo pós-11 de Setembro: um mundo em que o terrorismo niilista não deseja um objetivo político preciso, mas simplesmente mergulhar o Ocidente num clima de paranóia destrutivo e autodestrutivo.
Infelizmente para os criadores, a narrativa não é apenas infantil em sua pretensão política e filosófica; é incongruente quando Batman ou Coringa entram no enquadramento. Razão simples: se a fantasia já é difícil de engolir como fantasia, imaginem apresentá-la em tom "realista" e até "documental".
Confrontado com Batman e Coringa, nenhum adulto equilibrado vê um super-herói e um super- vilão. Vê, simplesmente, dois dementes em pijamas que fugiram do asilo da cidade."
Se você teve saco de ler tudo, me desculpe, é realmente foda chegar ao fim de um texto onde um homem pega um senso de diversão (o dele) e o usa para medir todo o resto do mundo (provavelmente você esta acostumado a ver esse tipo de comportamento quando o assunto é política, times de futebol, religião ou hábitos alimentares), realmente não pretendo entrar na discussão se o filme é bom ou não é (quem já viu que tire suas próprias conclusões). Apenas vou usar o texto desse cara para expressar meu desapego a considerar pessoas pessoas que acham que usam como unidade primordial de medida para o mundo o tamanho do próprio pau. Pensei em ridicularizar os argumentos dele mas acho mais divertido atacar toda uma gama de subproduto humano que apenas uma opinião (mas vou usar exemplos do texto para ilustrar melhor o ignorância do gênero).
Um dos jeitos de você cagar uma opinião é enaltecendo quem você é, falar que já viu, ouviu, leu ou estudou mais, funciona quando as pessoas se impressionam com o conhecimento ou quando a pessoa simplesmente é mais ignorante, falar que você é culto ou estudado é uma forma de mostrar que sua opinião tem algum valor e geralmente ficamos impressionados quando alguém mais fodão fala, como se o estudo e a cultura fossem uma cura mágica para a idiotice (infelizmente não é).
Outro padrão nessa forma de, por que não dizer, manipular opiniões é começar afirmando que há apenas um jeito, o certo, ignorando que podem haver outras interpretações ou simplesmente que pessoas diferentes vêem as coisas de formas diferentes. Dizer que só há um jeito, só há um caminho ou que não pode haver super-heróis simplesmente porque a roupa que eles usam é ridícula é uma forma de forçar as pessoas a aceitar o "certo" (que no caso seria a próxima frase), isso em geral vem acompanhado da ridicularização, falar simplesmente mal do burguesses pelogos do Serra ou dos senhores de 40 anos que compensam a falta de apetite sexual com HQ's é um bom exemplo disso, eu prefiro chamar claramente de idiota, como nosso bom amigo John John.
Em geral textos assim são apenas uma sequência de ridizularizações pontuasdas por argumentos tendenciosos (no minímo, em geral eles são falsos mesmo), mas como tudo na vida sempre há a cereja do bolo.
Nesse caso é a grandiosa conclusão do pensamento, texto, ensaio ou post no blog. Em geral o autor faz um resumo de tudo o que disse anteriormente pontuado por uma comparação exdrúxula mais ou menos como o final de uma esquete do Monty Python ou compara o texto com a dura realidade (algum fato de certa importância (ou nenhuma (como a instalação de cameras de segurança))), depois desse resumo o autor tenta se enaltecer denovo, seja dizendo suas qualidades seja falando que ele se deu o trabalho de ouvir a opinião contrária e tentar entende-la mas viu que era impossível (talvez ele não tenha conseguido porque sua cabeça estava enfiada muito fundo no próprio traseiro). Geralmente ele termina dizendo que ele estava certo e que realmente aquilo era uma bobagem, que ele não deveria ter perdido o tempo e instigando as pessoas a pensar como ele (seja maldizendo filmes de fantasia ou instigando o vandalismo).
Ou seja tudo bullshit!
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